quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Faceorkutwitter.


Acordamos e ligamos o computador antes de tomar café, conversamos muito mais horas online que pessoalmente, o celular toca mais vezes do que realmente necessitamos e mesmo assim não conseguimos ficar fora de área nem sequer vinte minutos.
 E temos quatro chips, três TVs, dois pendrives e uma hora livre - sem falar, claro, nas centenas de amigos virtuais em inúmeras redes sociais onde expomos nosso dia-a-dia e nosso ego. Ninguém mais tira foto para recordar, e sim para rechear álbuns de orkut; já não se lê Platão ou Shakespeare, mas todos já tiverem citações publicadas - muitas que nem ao menos refletiram, mas se parecer genial estará lá! Dá-se diariamente "Bom dia amigos, boa noite meu povo..." enquanto nem falamos com o vizinho e ignoramos as pessoas que encontramos rotineiramente.
Estamos lá, orkuteando, facebookeando a vida alheia, postando nossas músicas prediletas, programas, filmes, comentando fotos, frases e fases e, acima de qualquer outra coisa, dando satisfação do que estamos fazendo - até para ir no banheiro é preciso alterar o "status". Tuitamos nossos cento e quarenta caracteres de acordo com nosso estado emocional ou simplesmente com o que estejamos fazendo (não importa a bobagem que seja), seguimos e somos seguidos por milhares de pessoas mesmo não tendo nem com quem ir ao cinema.
Construímos assim nossos relacionamentos, criamos um perfil, seguimos um padrão, chateamos o dia inteiro - e abre fecha janela, abrevia-enter-esc, nova janela. Tudo muito rápido - se exige velocidade mesmo - fazemos tantas coisas ao mesmo tempo que acabamos por não fazer nada realmente proveitoso, mas...eu comentei o que mesmo? e quem era aquele? Se essa rapidez em fazer|desfazer "amigos" e nossa própria imagem diante dos outros era um dos intuitos tecnológicos para nossa geração, ok, conseguido.
Li um livro no início do ano em que o primeiro capítulo era a reprodução fidedigna das páginas do Twitter, e conversando (presencialmente!) percebi como vou de um assunto à outro em questão de segundos e logo em seguida retorno à esse ou àquele - idêntico ao que faço no messenger - e penso novamente "minha geração".
Nós destruímos relações (alheias, inclusive) num delete. E as pessoas pensam menos, parece que quanto mais informações se tem ao dispor, menos raciocinam; basta uma digitada e o Google abate o bom e velho Aurélio (e vamos lá pesquisar o termo "enciclopédia"(!)).
Li as fábulas de Esopo aos dez anos de idade, conheci Manuel Bandeira, Drummond e Cecília Meireles (O Eco - primeira poesia que aprendi de cor) assistindo Castelo Rátimbum - alguém aí lembra? Doug Funnie, Chaves... bons tempos. Infelizmente, hoje as crianças querem ser supersaiadins ou algo parecido com Ben10. E de repente imagino meu filhos, frutos desse tempo, paridos por uma tecnologia ainda mais avançada, num tempo ainda mais curto. E me ponho a repensar nas vantagens dessa era high tech numa oscilação entre evolução e retrocesso.
Agora estou aprimorando meus conceitos, revendo minha realidade virtual, estipulando tempo online (no que dizem "social") e aproveitando bem melhor desse trigo no joio: aulas no youtube, debates, bons documentários, jornais diários; no desenvolvimento de meus interesses e na troca de experiências com outros. Por um minuto estive na ponta da prancha, me fez refletir e pensar no que eu estava fazendo - trocando minha realidade pessoal por uma necessidade inventada.
Nós, acostumados apenas a seguir a corrente, preferimos sempre não encarar nossas relações cara-a-cara porque tudo atrás da tela é mais fácil. Não é mesmo?! Mas na "vida real", como diz minha mãe, não tem emoticon substituindo olhares e expressões, muito menos "rsrsrs, hahahas ou kkkkks" enquanto nem se achou graça; porque você é você, e é amigo, é sincero, é medroso, é encantador, inteligente ou imbecil... é o que realmente for, não tem como fugir.
'Te amo' não é mensagem no celular nem depoimento clichê.
Amigo está na sala de sua casa, não do bate-papo.
Relacionamento é dia-a-dia, é pele, empatia.
E, definitivamente, meu sentimento não é status.

Um comentário: