segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Duas palavras

Ele não conhece Vinícius de Moraes nem ouve Chico Buarque, não pinta, não toca e não dança. Não compartilha de minhas revoltas sociais nem vivências anteriores. Ele não gosta de futebol - e qual o homem que não curte futebol meu deus?! Sim, o meu.
Somos diferentes, em tudo. Ele prefere isso e eu aquilo, só concordamos em preferir um ao outro, e basta.
Ele não me completa, me inspira! E tenho vontade de fazer (infinitamente) as coisas que mais gosto: pintar, ouvir música, ler, tocar algo, aprender tanto... de sonhar mais e me erguer para que aconteça.
Ele... que me põe à prova - e eu que sou puramente instintiva me contenho, me confundo com tantas vozes, me ponho na beirada do telhado e sinto que nada valerá a pena em troca. E então percebo o quanto o amo, tenho que admitir - não para minha meia dúzia de leitores, mas para mim mesma - que não adianta fugir, anular, descrer, é isso, é fato, e hoje me redimo.
Love U.


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Hipóteses I

E se eu não quiser sorrir sempre?
E se eu não puder ser legal sempre?
Se não tiver disposta a pintar qualquer dia e qualquer hora?
Se eu não acompanhar as brincadeiras idiotas?
Se não fizer as piadinhas sacanas?
Se não achar graça de tudo?
Se não me conformar com nada?
E se eu não dançar a noite toda?
E se eu não quiser trocar Bessie Smith por Charlie Brown?
Nem Millôr por qualquer um de vocês?
Se eu não quiser comer feijão com arroz?
Nem partilhar meu chocolate?
Se eu quiser ficar sozinha num sábado a noite?
Se eu for ao cinema sem fazer convites?
Se eu não aceitar seus pés sujos no meu sofá?
Nem invasão na minha vida?
Se eu for feliz assim?
Se eu mudar?
Se eu não for tão doce sempre?
Seu eu não quiser contar segredos?
Se eu ficar triste e deixar vocês perceberem?
Se minha raiva pedir um tempo de tudo?
E se eu cansar de tudo isso aqui?!


Mais uma dose

O Carlos não me disse que também estaria no shopping, e lá fui eu ao cinema, perdi o filme que pretendia assistir e acabei vendo outro que me fez rir muito - adoro poder me divertir assim, sozinha e até mesmo com o filme errado.
Eu ainda não sabia que ele me esperava, me espreitava impaciente e silencioso, meu celular não tocou... não me deixou mensagens eletrônicas - ele nem usa internet.
Dei uma volta, tomei um sorvete, no fundo eu temia que ele estivesse lá, que eu não pudesse resistir.
Quando entrei para tomar um café ainda desconhecia sua astúcia, logo me vi sob olhares... e me chamavam, me tentavam, me perturbavam; mas eu sabia, afinal, estava ali por isso - esse desejo de sedução.
Troquei algumas palavras com um alemão que falava muito bem minha língua, então sentamos e discutimos teorias artísticas, papo que despertou meu interesse de início, mas em seguida eu vi que o que me atraía era mais forte que aquela meia dúzia de ideias enlatadas. Pedi licença e logo caí nas graças de um uruguaio, eu já o conhecia, mas precisávamos realmente conversar mais particular. Suas primeiras palavras logo me fizeram cair de amor, interesse e excitação; não o consegui largar - por mim o devorava ali mesmo, na frente de todo mundo.
Todos enciumados, esperavam sua vez da paixão, da tara, da curiosidade... aguardavam mais simpatia, mais visitas, mais convites para casa. Perdoem-me, mas essa noite já fiz minha escolha.
Porém, ele estava mesmo lá, me olhava de sua mesa, por trás do livro e dos óculos - como sempre. Então chegou até mim, tremi, fiquei nervosa, ridiculamente com olhos brilhantes e coração acelerado. Querido...
Estava lindo, com voz mansa e suave, no tom que mais me agrada e comove. Sentou-se conosco; vamos rever, repensar, vamos conversar sobre você, sobre mim, sobre nós todos nesse emaranhado de sentimentos.
Eu não podia deixá-lo ali, ele também não me deixaria sair...e se passaram não sei quantas horas.
Meu brasileiro, amante desde sempre, que me enche com todo amor do mundo em suas palavras; o uruguaio, a excitação de suas ideias revolucionárias e suas análises sobre nós.
Quando me vi dividida por aqueles homens fantásticos me senti realizada! Vamos lá queridos, vamos nós três... vamos para minha casa, vamos declamar as poesias mais belas e lutar pelas ideias mais insanas, vamos nos juntar aos outros, conversar, discutir, debater, beber vinho e virar a madrugada nessa orgia de compreensão linguística e filosófica, gozar e depois dormir, ou repetir. Vamos lá.


"...As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
 A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
(...)
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo."

Trecho de Poema de Sete Faces, Drummond.

http://www.skoob.com.br/estante/livros/todos/341014

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Para começo de conversa, amigos virtuais não valem.

Depois do texto sobre as redes sociais não consegui mais ser a mesma (às vezes mudamos sob um impacto, noutras apenas depois de longa reflexão), chego mesmo a pensar que aprendi mais nessas últimas duas semanas que desde o início do ano, porque, sem drama, meus amigos sumiram. E de pensar onde estavam, achei uma questão anterior: mas quem são?
E me vi com tudo destruído por aqui, precisando de ajuda física, moral e psicológica.
Mas o que cobrar de uma amizade?
Mil textos com receitas|perfis de "amigos", declarações e juras eternas; mas sabemos não ser assim, pessoas vem e vão (assim mesmo que tem que ser); existem os amigos que estão distantes e mesmo assim conseguem se fazer presentes, e também o contrário - aqueles que estão do lado como se não estivessem. Cresci ouvindo dizer que amigo se reconhece na doença e na desgraça, pois bem, não quero chegar tão longe para reconhecer os meus.
Sempre tive muitas pessoas ao redor, tenho uma grande facilidade de relacionamento e confundi muito convivência com amizade. Mas agora aprimoro esse meu conceito, não existe mais para mim esse super amigo - criatura sempre presente nas alegrias e tristezas, no sofá da sala e nas filas de cinema... talvez seja exigir demais.
Tive amigos realmente consideráveis, os quais pensei nunca me deixarem ou evaporarem, amigos que fiz o que pude para ajudar, manter, ter nesse tal de lado esquerdo, pessoas que tanto diziam me amar e querer bem e que hoje não estão mais comigo. E então?!
Daí vejo que realmente precisamos e podemos ser bem mais fortes, não lamentar, não esperar, não confiar tanto; é essencial seguir com quem estiver na estrada e não retroceder por quem optou outro rumo.
Essa é a novíssima sensação que provo agora, a desnecessariedade [sic] de um amparo a todo momento, do ombro para chorar, do ouvinte atento seguido pelo conselheiro implacável. Não falo de ser autossuficiente (ninguém o é), mas de saber selecionar melhor as ajudas a serem recebidas (note que nem toda mão estendida é para te erguer).
E não devemos cobrar absolutamente nada, amizade é que nem o amor - quem ama se preocupa, quer estar junto, quem ama ajuda e compartilha, aconselha e protege - espontaneamente.
A coisa importante não é nomear, classificar, nem saber quem estará conosco sempre, afinal é impossível - amanhã é terra que não se anda; o que importa mesmo é seguir sempre adiante, saber agarrar e deixar, guardar bons momentos e correr por dias melhores com quem nos ama e que está ao nosso lado (não importando onde).

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Arte Urbana

Stencil de Bia Rocha


Não ficará para sempre
como as telas barrocas,
como os afrescos renascentistas,
como as iluminuras medievais,
como as estátuas romanas,
os vasos gregos,
os túmulos egípcios e
as cavernas pré-históricas.
As paredes desbotam, as ruas apagam
apagam
apagam
e pedem renovo, tinta e sentimento.
É o agora, e ficará para sempre no suporte humano.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Faceorkutwitter.


Acordamos e ligamos o computador antes de tomar café, conversamos muito mais horas online que pessoalmente, o celular toca mais vezes do que realmente necessitamos e mesmo assim não conseguimos ficar fora de área nem sequer vinte minutos.
 E temos quatro chips, três TVs, dois pendrives e uma hora livre - sem falar, claro, nas centenas de amigos virtuais em inúmeras redes sociais onde expomos nosso dia-a-dia e nosso ego. Ninguém mais tira foto para recordar, e sim para rechear álbuns de orkut; já não se lê Platão ou Shakespeare, mas todos já tiverem citações publicadas - muitas que nem ao menos refletiram, mas se parecer genial estará lá! Dá-se diariamente "Bom dia amigos, boa noite meu povo..." enquanto nem falamos com o vizinho e ignoramos as pessoas que encontramos rotineiramente.
Estamos lá, orkuteando, facebookeando a vida alheia, postando nossas músicas prediletas, programas, filmes, comentando fotos, frases e fases e, acima de qualquer outra coisa, dando satisfação do que estamos fazendo - até para ir no banheiro é preciso alterar o "status". Tuitamos nossos cento e quarenta caracteres de acordo com nosso estado emocional ou simplesmente com o que estejamos fazendo (não importa a bobagem que seja), seguimos e somos seguidos por milhares de pessoas mesmo não tendo nem com quem ir ao cinema.
Construímos assim nossos relacionamentos, criamos um perfil, seguimos um padrão, chateamos o dia inteiro - e abre fecha janela, abrevia-enter-esc, nova janela. Tudo muito rápido - se exige velocidade mesmo - fazemos tantas coisas ao mesmo tempo que acabamos por não fazer nada realmente proveitoso, mas...eu comentei o que mesmo? e quem era aquele? Se essa rapidez em fazer|desfazer "amigos" e nossa própria imagem diante dos outros era um dos intuitos tecnológicos para nossa geração, ok, conseguido.
Li um livro no início do ano em que o primeiro capítulo era a reprodução fidedigna das páginas do Twitter, e conversando (presencialmente!) percebi como vou de um assunto à outro em questão de segundos e logo em seguida retorno à esse ou àquele - idêntico ao que faço no messenger - e penso novamente "minha geração".
Nós destruímos relações (alheias, inclusive) num delete. E as pessoas pensam menos, parece que quanto mais informações se tem ao dispor, menos raciocinam; basta uma digitada e o Google abate o bom e velho Aurélio (e vamos lá pesquisar o termo "enciclopédia"(!)).
Li as fábulas de Esopo aos dez anos de idade, conheci Manuel Bandeira, Drummond e Cecília Meireles (O Eco - primeira poesia que aprendi de cor) assistindo Castelo Rátimbum - alguém aí lembra? Doug Funnie, Chaves... bons tempos. Infelizmente, hoje as crianças querem ser supersaiadins ou algo parecido com Ben10. E de repente imagino meu filhos, frutos desse tempo, paridos por uma tecnologia ainda mais avançada, num tempo ainda mais curto. E me ponho a repensar nas vantagens dessa era high tech numa oscilação entre evolução e retrocesso.
Agora estou aprimorando meus conceitos, revendo minha realidade virtual, estipulando tempo online (no que dizem "social") e aproveitando bem melhor desse trigo no joio: aulas no youtube, debates, bons documentários, jornais diários; no desenvolvimento de meus interesses e na troca de experiências com outros. Por um minuto estive na ponta da prancha, me fez refletir e pensar no que eu estava fazendo - trocando minha realidade pessoal por uma necessidade inventada.
Nós, acostumados apenas a seguir a corrente, preferimos sempre não encarar nossas relações cara-a-cara porque tudo atrás da tela é mais fácil. Não é mesmo?! Mas na "vida real", como diz minha mãe, não tem emoticon substituindo olhares e expressões, muito menos "rsrsrs, hahahas ou kkkkks" enquanto nem se achou graça; porque você é você, e é amigo, é sincero, é medroso, é encantador, inteligente ou imbecil... é o que realmente for, não tem como fugir.
'Te amo' não é mensagem no celular nem depoimento clichê.
Amigo está na sala de sua casa, não do bate-papo.
Relacionamento é dia-a-dia, é pele, empatia.
E, definitivamente, meu sentimento não é status.

sábado, 6 de agosto de 2011

Verdade

Posso começar por aqui mesmo, o velho papel em branco que sempre me excitou tanto.
Eu realmente tinha (e tenho) o caderno de páginas coloridas, sempre tive o hábito de escrever (sabendo que era fuga). Eu costumava pensar bastante que apenas as páginas me entendiam, mas quem? Eu mesma, instrospectiva? E fazia como com as cores, pois, as palavras fluíam bem melhor estando eu no inferno - e eu sempre estava.
De vez em quando eu relia e revivia e ainda doía, parar de ler foi como perdoar (tirar as mãos da garganta do outro). Me achava muito velha para minha idade quando escrevia tudo aquilo, quando pensava e arquitetava; e uma criança quando via tudo desmoronar na hora em que as coisas realmente aconteciam.
Comecei a me enxergar de outro ângulo, as cores de fim de ano sempre revelavam uma garota meio racional meio devassa tentando explodir o mundo. Eram muitas anotações sobre os instintos (fortíssimos até hoje), sobre traições e planos, muitos planos. Inúmeros textos a respeito de meu conflito extremo com as definições de amor, nunca quis acreditar nem compreender, mas hoje vejo cada escrito como um manifesto sobre o vazio que sempre houve.
Minhas últimas páginas coloridas marcam a reviravolta maior até agora (O mal de todo romance é que se acaba sem romantismo) - o fim do relacionamento que me rendeu tanto material pra escrever. Muita reflexão, dias doente e mais reflexão. Depois mais algumas páginas sobre minhas frustradas tentativas de preenchimento... Anotações aqui e ali, aleatórias e indefinidas; muitos rascunhos de desenhos nas bordas sempre - fuga da fuga.
Hoje continua o mesmo, sempre quero escrever sobre as coisas boas que ocorrem, sobre o amor que tenho, as diversões...mas não. É o estresse, as dúvidas, ânsia, agonia, é apenas o acúmulo dessas coisas que me permite o retorno às originais - é isso.
Por isso hoje fico por aqui, nessa página de ofício amarelada de tão guardada, cansada de tanto tempo e pedindo mais que palavras.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Há Tempos

Coisas reviradas: roupas, latas, telas, muitos e muitos papéis, itens sem lugar e música tocando o dia todo.
Eu era um lobisomem juvenil - rapidamente várias lembranças de momentos e pessoas, a melodia me deixa tão nostálgica que procuro aquela carta... não encontro e busco incansavelmente algo que não sei. Revejo mensagens no celular, abro e fecho janelas, leio títulos e esquento um café pra me acompanhar com Tolstói.
 Por hoje vou esquecer essa bagunça aqui, todas as dores particulares e emprestadas; a saudade aumenta, muda o foco e me pede pra desligar o computador. 
Sim, vamos curtir de outra forma.


♫♭♪...Sou bicho do mato, mas se você quiser alguém pra ser só seu é só não esquecer: estarei aqui.


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Reforma

Até então meu teto nem estava quebrado, mas havia outras coisas para refazer no quarto: pintar paredes, redecorar, esvaziar prateleiras entupidas, separar o que realmente servia do acúmulo desnecessário.    
Precisava de uma porta, mudar as coisas de lugar e, principalmente, repensar o pouco espaço que tenho.
Fora o cansaço físico e a despesa financeira ainda tem o estresse da situação.


A hora da reforma é inevitável, ou renova-se ou vive-se no caos.
Eu tinha mesmo que alterar pequenos hábitos, como horários pra dormir|acordar, tempo que gasto com bobagem na internet, pautas do dia e até mesmo alimentação...mas é que o teto ainda estava perfeito! 
Precisa-se sempre de um pontapé inicial para revermos nosso edifício ou nosso puxadinho, nossa rotina - que acabamos levando de qualquer forma, sem dar a importância devida.
Chega dessa invasão (consentida) de privacidade, de ter que ouvir o barulho do mundo todo e fazê-lo ouvir os meus; basta dessa mesma parede colorida e escorrida, quero testar as novas cores que descobri esses dias; não preciso de tantas cartas passadas, de recortes e fotos - seleciono as recordações que quero ter.
Metade de minha vida no lixo e penso, ótimo! Precisava mesmo faxinar essa garota aqui. 
No final sempre vale a pena, a autoavaliação nos traz a sensação de alívio, de dever cumprido ou simplesmente o êxtase de um novo ambiente - juntamente com a empolgação para novos projetos e o gás do recomeço. 
Então mãos à obra! Sem dúvida você precisará de alguém para ajudar nos consertos e/ou renovações (direta ou indiretamente) - aquele amigo que impulsiona suas taras ou reprova suas atitudes, alguém que aponta sua parede rachada ou quebra algo, ou que arrebenta seu teto inteiro e te faz perceber a necessidade de mudança.

P.S.: Lembro imediatamente de uma citação de Shaw, lida alguns dias atrás
 O progresso é impossível sem mudança, aqueles que não conseguem mudar suas mentes, não conseguem mudar nada.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Mas que nada.

Jorge Ben no último volume numa tentativa de destravar o nó na garganta.
Meu horóscopo disse que o mês seria difícil, mas eu já pressentia (depois de tantos dias bons).
Após a tempestade vem a bonança - mas depois vem a fúria novamente, é o ciclo.
Mas esse é o melhor momento, é hora de testar nossa paciência, nossa capacidade de reverter a situação e fazer as coisas darem certo. Já tive a hora do pânico, claro, mas sei que chorar não vai adiantar muito, na verdade não vai adiantar nada - nem de alívio serve mais; então só resta raciocinar, a única solução possível é pensar em como mudar, transformar os contras em prós.
Firmar a meta, traçar o plano e começar.
Vamos lá.