sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Antes de mais nada, paixão.

 A dor hoje é maior - maior que a dos romances, das amizades e da família. A angústia é particular, tão minha que sempre neguei compartilhar, mas hoje tá foda, chega.
 A dor é graffiti.
 Pintar, definitivamente, é o que mais amo na vida. E eu nunca soube ao certo o porque disso, quando criança pintava sonhos, todas as coisas que eu queria ter; depois a raiva, os protestos e sempre mais revolta; então despertou a paixão, louca, desesperada, que não passa, não ameniza e maltrata como qualquer outra.
 E eu não tinha latas ou outro material, nem dinheiro, só a tara de riscar a brancura dos muros - como disse o Quintana; e isso bastava pra sair de casa na busca -  rua, paredes, tinta, ideias, vivências, intervenções. E eu não entendia ainda o que mais me motivava, se era o fato de ter meu nome riscado, se o incômodo aos transeuntes, o prazer aos amantes, eu não sabia, somente algum tempo depois percebi que era pessoal, minha satisfação de fazer, pintar, era isso! E fiz do graffiti meu refúgio, minhas horas no papel traçando letras, na parede quebrando a cabeça e procurando expressões... e tive a fase de só conseguir pintar feliz, depois de só pintar triste... e só então descobri a verdade que não canso de repetir, é minha libertação.
 É o que amo e o que dói, me perturba, inquieta, me faz acreditar sempre que todas as coisas podem melhorar. E luto por ver as mudanças na minha cidade, tão linda mas ainda tão ignorante em relação a tanta coisa... é muito difícil - parafraseando Raul Seixas, sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só.
 Hoje chorei muito ao achar mais uma vez que talvez não mude nunca, e senti a mesma decepção (inclusive comigo mesma) de alguns anos atrás, vendo projetos lindos, propostas incríveis e uma ótima perspectiva para arte urbana em Natal escorrer por entre nossos dedos, pela nossa falta de visão, responsabilidade e, principalmente, amor.
 É o que costumo dizer, que graffiti e arte urbana em geral é, antes de tudo, paixão. E sem paixão nada é excitante nem suficientemente bom para obter nossa dedicação.
Então vou adiante, batalhar mais ainda para ver acontecer o evento que agora planejamos, ver uma bela produção, mas, o mais importante do dia foi a intensificação da certeza desse algo tão simples e claro, de que o graffiti é intrínseco, não importa onde eu for ou o que eu faça, sempre estará em mim, me jogando nessas situações, me fazendo refletir sobre minhas atitudes, me guiando no inferno, me relaxando e estressando e, assim, me deixando cada vez mais apaixonada, porque é mais que pintura, é um estilo de vida.