domingo, 8 de janeiro de 2012

Untitled

Não tínhamos mais o que conversar e concordamos em desligar, não adianta ficar mastigando a tristeza nos dias em que não se pode maquiar com esperança.
E eu decidi não falar mais em saudade, ainda mais dessa aqui que vai modificando todos os meus sentimentos a cada dia. Tento acordar e me concentrar nas afazeres diários, manter uma rotina e ser menos impulsiva que o normal; mas meu natural é quebrar as regras estabelecidas, não pelo prazer de contrariar ou ser rebelde sem causa, mas por querer sempre moldar a situação à maneira onde eu me sinta melhor, e não é justo?
E agora preciso aguardar meses pra poder reencontrá-lo, pela terceira vez mais três meses de espera e todo o processo novamente. Talvez hoje não seja o melhor dia para escrever sobre isso, mas a moeda sempre tem dois lado e hoje caiu aqui.
Caiu exatamente nos muitos pensamentos, ideias, tentações, observações, reviravoltas e mudanças. O que eu não sentia agora sinto e o que sentia pouco agora se torna forte - bem e mal. E adoraria poder simplesmente mudar os planos, alterar tudo isso e vê-lo amanhã! Sim, sim, essa inconsequência juvenil que ainda me fascina completamente.
Ah a inconsequência...
E recordo um trecho fantástico do livro Memórias de Minhas Putas Tristes, de Gabriel García Márquez, busco de imediato em minha estante e sinto já poder dispensar minhas palavras.

"Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza.
Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso pra encobrir minha mesquinhez, me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco."


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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O Êxtase de Santa Teresa

Conheci um garoto de dezenove anos, italiano, um pouco tímido e desconfio que artista (porque me pareceu também um tanto louco). Passei toda a noite do último Natal conversando com ele enquanto perdia o show ao qual tinha ido assistir; ficamos impressionados um com o outro, como se jamais tivéssemos encontrado pessoas que nos entendessem por também compartilhar de nossas maluquices.
Ele olhou para minha tatuagem e não fez cara de estranheza logo perguntando o que porra era aquilo - como fazem todos; ele falou de imediato: Basquiat!, o resto então foi fichinha.
Mas é claro que sei quem é De Chirico! Munch, Renoir, Turner, Delacroix, Van Eyck, Rembrandt, Duchamp, Dalí além da face caricata... E o riso mais verdadeiro se abriu. 
Descrições de obras, comparação de estilos, de história, lugares, livros, cada detalhe - minha paixão pela teatralidade de Caravaggio, seu fascínio pelo futurismo de Depero. E ele já foi em vários museus, galerias de arte, até mesmo no Louvre e, para me dar aquela pontada, na Capela Sistina. Estuda arte freneticamente, pinta todos os estilos, prova tudo, anseia por entrar na universidade logo e viver para sempre mergulhado no que ama. Belo. 
Revela sua admiração e desejo de  fazer arte urbana, nunca fez um graffiti mas entende mais que muito escritor antigo sobre a essência da coisa. Assim como compreende minha frustração pela universidade que provei, o ódio dos artistas de plástico e o eterno conflito com as cores.
Hoje, dia cinco de Janeiro, ele me chega pelo email, me deixa com saudade da conversa, da sensação boa de compreensão, de interesses comuns. Respondo com o verdadeiro anseio de reencontrá-lo e a certeza de não se fazer possível.
Mas talvez tenha bastado, era só pra eu sentir o sabor, saber que devem existir ainda muitas outras pessoas pelo mundo como ele, pra eu buscar. É reconfortante.