quarta-feira, 30 de março de 2011

terça-feira, 15 de março de 2011

Rotina

Em casa é o eterno conflito com as paredes - reais, pessoais e do mundo inteiro. Onde penso em tudo, onde canso de pensar e grito, e canto e toco minha vida. Olho a parede colorida e escorrida, monto novos esquemas de cores e borro tudo, e torno a pintá-la todo dia, várias vezes na mesma hora. Entra e sai gente o tempo todo, abro e fecho o portão enquanto olho meu chaveiro - meu pequeno bulldog francês - e penso porque nessa casa não tem cachorro...
Nem tem pai. Não tem cama pra mim nem água quente no chuveiro.                                                                                                      
                                                                                                                                                    
O Deart é meu inferno particular, é onde tento levar minha burrice às suas extremas consequências mesmo.
Detesto aquelas paredes cor de nada, o orgulho de nada, o nada que se pode sentir.
Artes Visuais, Dança, Design e Teatro, tudo de mais genial sendo (ou tentando ser) produzido no menos genial possível.
E nesse departamento não tem tara, não tem paixão, não tem revolta e, assim sendo, não tem revolução.   
    
A rua é libertação. Ar poluído, visão poluída, audição, tato, paladar, não se pode escapar, tudo imundo, inclusive os pensamentos (e o pior, as ações também). Paralelepípedos, esgoto, bancos de praça, sol, chuva, caminhos que se cruzam, bom-dia perdido, balas encontradas, pessoas e vira-latas, imprevisão. Telas públicas que convidam nossa dor, nosso entusiasmo, a ânsia de quebrar nossa (sua) rotina de merda. Polícia cretina, políticos inúteis, transeuntes frustrados.
E na rua não tem seminário, não tem avaliação semestral, não tem edital. Não tem sofá nem muito tempo para pensar.

                                                                              


 Fortaleza (CE), Dezembro de 2010.

segunda-feira, 14 de março de 2011

14 de Março.

Não se mate -1934
Carlos Drummond de Andrade


Não se mate

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguem sabe nem saberá.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O Meu Amor.

As pessoas sempre riem quando digo que sinto o Chico Buarque "dentro de mim".
 Mas acaba sendo assim mesmo; ele se aproxima e beija suavemente -  enquanto recita no meu ouvido o que sente ou o que sinto. Me enlouquece.
Estava sozinha, deitada no velho sofá da sala e mastigando as mágoas de ontem quando ele chegou. Dessa vez fez diferente, ficou apenas me olhando e me disse coisas para me fazer chorar - veio me aliviar. 
Perguntou porque eu estava sozinha, porque sempre sozinha meu doce?! Disse-lhe que estava aprendendo a povoar minha solidão, para poder conseguir me isolar na multidão - e pensei: Baudelaire?!
 Depois ele preencheu todo o vazio com sua voz mansa e mão pesada, sua boca ávida e respiração quente.
Foi lindo, a pele arrepiada, trêmula, lambida, mordida e marcada.
Acabei cochilando e acordei sorrindo, tentando lembrar bem o que tinha acontecido- mas ele nunca deixa detalhes. 
Só a sua música tocando...e tocando.
Pensei novamente: Baudelaire? sim, sim  - e  uma vontade imensa de ir colher flores me surpreendeu! 
Bem, deixo um pouco dele aqui para quem se arriscar conferir



sábado, 5 de março de 2011

Mazela.

Tirei as latas da prateleira, aquelas cores que nunca usei. Repintei uma telinha trinta por trinta e consegui fazer alguma desordem no quarto. Stencils no chão, mancha de tinta branca no braço magro e Raul Seixas mandando: "faça, fuce, force''...e não fique na fossa, e não chore na porta, derrube essa porta...

Os meus fantasmas
São incríveis
Fantásticos, extraordinários
Se fantasiam de Al Capone
Nas noites que tenho medo
De gangsters
Abusam de minha
Tendência mística
Sempre que possível
Os meus fantasmas tornaram
Minha solidão em vício
E minha solução
Em Status Quo
Ai! Meu Deus do Cé
u!