'Ele tinha o olhar mais inocente e o sorriso mais sincero que vi até hoje.
De início tive a dúvida se conseguiríamos nos suportar mais que aqueles quarenta minutos. Cada um com sua visão de mundo, suas ideias formadas e, principalmente, seu firme discurso de convicções.
Praticamente a mesma idade e, sem dúvida, a mesma simpatia fácil.
Eu era a menina liberal, de mente escancarada e ações impulsivas, levando o garoto embotado de dogmas religiosos a refletir seus conceitos; ele, a mente moderada que através de uma sagacidade excepcional ensinava uma alma eufórica a encontrar equilíbrio.
Quebramos regras sérias com atitudes simples, e quanto mais simples mais belas. Muitas palavras, palavras rápidas, palavras compreendidas, meias-palavras, até nenhuma.
Confissão muda de desejo gritante. Aquele olhar me assustava e me comovia, e quanto mais comovia mais me aterrorizava.
Ele se foi de repente, o olhar e o sorriso ficaram fotografados (mais em mim que no papel); ele não queria, eu também não; mas tudo estava ficando belo demais, risos demais, e o sorriso tira o temor - e sem temor não há fé.
Mas ele ainda está aqui, às vezes chega pela caixinha de correio, noutras no vazio da parede ou até mesmo assim, numa terça-feira qualquer enquanto volto pra casa num ônibus lotado...
(Terça, 21 de setembro de 2010)