terça-feira, 15 de março de 2011

Rotina

Em casa é o eterno conflito com as paredes - reais, pessoais e do mundo inteiro. Onde penso em tudo, onde canso de pensar e grito, e canto e toco minha vida. Olho a parede colorida e escorrida, monto novos esquemas de cores e borro tudo, e torno a pintá-la todo dia, várias vezes na mesma hora. Entra e sai gente o tempo todo, abro e fecho o portão enquanto olho meu chaveiro - meu pequeno bulldog francês - e penso porque nessa casa não tem cachorro...
Nem tem pai. Não tem cama pra mim nem água quente no chuveiro.                                                                                                      
                                                                                                                                                    
O Deart é meu inferno particular, é onde tento levar minha burrice às suas extremas consequências mesmo.
Detesto aquelas paredes cor de nada, o orgulho de nada, o nada que se pode sentir.
Artes Visuais, Dança, Design e Teatro, tudo de mais genial sendo (ou tentando ser) produzido no menos genial possível.
E nesse departamento não tem tara, não tem paixão, não tem revolta e, assim sendo, não tem revolução.   
    
A rua é libertação. Ar poluído, visão poluída, audição, tato, paladar, não se pode escapar, tudo imundo, inclusive os pensamentos (e o pior, as ações também). Paralelepípedos, esgoto, bancos de praça, sol, chuva, caminhos que se cruzam, bom-dia perdido, balas encontradas, pessoas e vira-latas, imprevisão. Telas públicas que convidam nossa dor, nosso entusiasmo, a ânsia de quebrar nossa (sua) rotina de merda. Polícia cretina, políticos inúteis, transeuntes frustrados.
E na rua não tem seminário, não tem avaliação semestral, não tem edital. Não tem sofá nem muito tempo para pensar.

                                                                              


 Fortaleza (CE), Dezembro de 2010.

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