quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Valores & Ambições*


Não consigo resgatar em que momento ou sob que acontecimento, eu percebi que se nada é perfeito como queremos, também não pode ser tão mau como julgamos.
Minha mãe sempre foi fantástica ao me ensinar isso. Lembro que sempre que eu não queria determinada comida, ela massacrava minha imaginação descrevendo cenas de pessoas que catavam e comiam lixo; com lembranças de sua nada-infância me fazia entender que é melhor ter uma coisa simples do que coisa nenhuma. Que não é possível ser feliz com mais até ser feliz com o que já se tem.
Eu, com oito ou dez anos de idade, queria um violão, uma bola de Basquete e um tênis novo; sobretudo uma coleção (lápis de cor) da Faber –Castell  - era a ambição máxima, junto com as tintas óleo, dessas próprias para telas (mas e os pincéis, as benditas telas e o maldito cavalete?); os sprays então eram impensáveis...
Eram as coisas que eu realmente sonhava. Nunca fui ligada em moda: roupas, bolsas e jóias não me interessavam em nada;  até hoje não entendo de marcas – e não tenho a mínima pretensão.  Apenas quando alguém comenta sobre minhas ecobags acabadas ou a correia do meu chinelo estoura – que nem semana passada – é que resolvo comprar outro.
Hoje eu tenho as coisas que queria, e olhando para cada uma delas – como faço agora – vejo que em si elas não tem tanto valor assim, mas o caminho até cada uma delas é que as fizeram ter.  Cada lata tem uma história, um trabalho, em escambo; cada livro, antes emprestado e lido, depois comprado em sebos ou livrarias - com dinheiro de carimbos na carteira, free lances e serviços, trocas de serviços e negociações – torna-se de um valor especial.
De valor igual ou até mesmo superior ao caminho que precede está o que seguirá.
 O importante não é a coisa, é o uso que se faz dela.
E de que adianta a bola sem jogo?
A tinta sem parede? 
A tela sem inspiração?
E se meus pais tivessem dinheiro e me dado tudo o que eu queria, que valor hoje eu daria as coisas? Haveria essa paixão ou seriam apenas “coisas”?
Começo a me por esses questionamentos - que desencadeiam tantos outros - após observar melhor como a maioria das pessoas é frustrada com a vida; grande parte com boas condições financeiras e familiares, outras conseguiram sucesso e mesmo assim continuam revoltadas. Duas delas, em especial, me fizeram pensar um pouco mais sobre os reais valores da vida.
A primeira me descrevia suas tantas bolsas caras (fazia questão de ressaltar isso citando preços, ja que percebeu que desconheço as marcas) enquanto me mostrava seu anel enumerando os diamantes, tapava seu vazio com cifrões e misturava suas dores com dólares e traições. Ela sentia piedade de mim tanto quanto eu dela; como eu não uso Lâncome?! Como não vou ao esteticista?! Ela tentava me mostrar como unhas de gel e passaporte ativo preenchem certas lacunas. Mas preenchem mesmo?  
 Eu apenas ouvia e me perdia em sua superficialidade. Era claro em seu olhar distante que, por trás das camadas de roupas caras e produtos de beleza, se esconde uma mulher mal-amada, sem perspectivas nem desejo autêntico, sem personalidade. Dependente, submissa, escrava de sua própria incapacidade.
Mas eu tinha dó, pensava em sua falta de estrutura familiar, nas coisas que ela não teve acesso, as oportunidades que foram negadas, em como teria se formado seu caráter, quais seus valores como ser humano – e não como objeto.     
 Eu divagava cada vez mais e não conseguia falar nada, questionava mentalmente a parábola das pérolas aos porcos enquanto punha tantas outras coisas em xeque.
A outra, no dia seguinte, potencializa minha reflexão, pois, não tem um sentido pra viver - e me repete isso constantemente.
Sempre achei o problema mais sério que pode haver na vida de alguém, a falta de objetivo; imagine o que é não ter um sonho, uma meta, um dom, uma vocação ou nem mesmo uma simples competência. Triste, não?
Essa garota vive financeiramente bem, faz pós-graduação (de um curso que não gosta) e tem até mesmo um cachorro. Mas não tem paixão, por nada.
 Dói, pois é minha amiga e faz-me sentir egoísta quando comento de meu amor pelas tintas, letras, ou por qualquer outra coisa.
Também não sei o que falar, ou melhor, não consigo dizer mais nada. Apenas reflito, e fico com dor-de-cabeça de tanto pensar (é estranha essa sensação diante da angústia alheia, um misto de dor pela empatia e felicidade pela nossa situação).
Sem querer fazer propaganda, mas sou muito bem resolvida com meus valores e metas. Tenho muitos problemas como todos, e ainda bônus de insônia e crises; mas procuro sempre ver o lado bom de tudo, é incrível, sempre há (mês passado, numa viagem da universidade com minha equipe, ao desfazer a mala, nossa coordenadora deixou um frasco novinho de perfume quebrar no chão; imediatamente, uma amiga disse com um enorme sorriso “gente, gente, as energias negativas se concentram nas coisas e não em nós, daí elas quebram; agora imaginem se um de nós tivesse quebrado”;  rimos demais).
São vários casos diferentes, mas que sempre me levam ao mesmo ponto: valores, criações e ambições.
Bem, eu não tenho dinheiro, ouro nem diamantes. Não tenho salário nem garantia financeira.   Mas tenho coisas que valem bem mais porque me dão(são meu) sentido de viver: paixão pelo que faço e tara pelo ciclo introspecção-criação-descoberta.
Além disso tenho uma família maravilhosa, liberdade de fazer o que gosto, muitos amigos e ainda um namorado pelo qual me reapaixono toda semana; e principalmente uma vontade absurda de aprender e fazer, de fazer e viver... E sempre aproveitar o máximo de tudo, criar e apreciar os momentos felizes.
E como ressaltou um sábio amigo “os contras são fundamentais para que existam os prós”.
 E me firmo, acredito e invisto nos prós.

Ando cheia de ideias e aspirações, desejos e projetos; e sou grata a todos que contribuem – mesmo que inconscientemente – para minhas reflexões e descobrimentos.
Saúde e paz, o resto eu corro atrás.

*Onde você pensa chegar?
Como você pensa chegar lá?
Qual o tamanho da sua vontade?
E o mais importante, qual a sua motivação?

2 comentários:

  1. Lindo, lindo, lindo. Perfeito!

    Fora os minutos mais bem gastos da minha manhã, lendo este post.

    Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Texto muito inspirador. Lindas palavras,lindos pensamentos. Como eu disse. Sou seu fãn. Beijão

    ResponderExcluir