quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

I Got a Woman

A garota parecia amargurada, percebi rapidamente quando vi o brilho diferente no seu olhar. Eu já havia me perguntado várias vezes se ela não ficava triste como todos nós, nossos amigos em comum pensam o mesmo - ou ela é realmente maluca ou disfarça perfeitamente algum desastre interior.
Pois bem, hoje a encontrei numa dessas lojas femininas, provava óculos de sol, estava pateticamente comum - jeans, blusa, havaianas brancas e, o mais estranho, sem as habituais flores coloridas no cabelo. Me cumprimentou com um sorriso e divagou em menos de cinco minutos sobre música, crianças e formatos de rostos. Resolvemos tomar um suco, estava muito quente, sentamos e por um segundo pensei estar a ponto de vê-la chorar, mas não, mantinha-se firme e citava Drummond e Neruda constantemente.
Não resisti e perguntei se ela estava triste, para minha total surpresa ela disse que 'sim'.
Conversamos sobre "inspirações" e ela me pareceu de uma loucura encantadora, me explicava suas paixões através de suas revoltas e iras, eu tentava entender como ela podia ir de um assunto à outro tão rápido, fugir, colocar tantas coisas em xeque e mesmo assim me prender em meus próprios questionamentos.
Ela sempre me deixa numa confusão de ideias e na empolgação de novos projetos, se foi em menos tempo do que eu desejava e por isso liguei à noite. Após cinco chamadas não atendidas finalmente ouço sua voz, na verdade ouvi primeiro a de Ray Charles, imaginei todo o ambiente e rapidamente fiz o convite para sairmos, dançarmos, conversarmos mais...
Ela não podia, estava, segundo sua própria descrição, "mergulhada em dúvidas", e eu fiquei também sem sair de casa, sentei no sofá e comecei a lembrar dela com um sentimento agora diverso... Não consigo parar de pensar o que está escondido ali, tenho eu também minhas dúvidas e receio perguntar pois sei que obterei a verdade.

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