quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O Êxtase de Santa Teresa

Conheci um garoto de dezenove anos, italiano, um pouco tímido e desconfio que artista (porque me pareceu também um tanto louco). Passei toda a noite do último Natal conversando com ele enquanto perdia o show ao qual tinha ido assistir; ficamos impressionados um com o outro, como se jamais tivéssemos encontrado pessoas que nos entendessem por também compartilhar de nossas maluquices.
Ele olhou para minha tatuagem e não fez cara de estranheza logo perguntando o que porra era aquilo - como fazem todos; ele falou de imediato: Basquiat!, o resto então foi fichinha.
Mas é claro que sei quem é De Chirico! Munch, Renoir, Turner, Delacroix, Van Eyck, Rembrandt, Duchamp, Dalí além da face caricata... E o riso mais verdadeiro se abriu. 
Descrições de obras, comparação de estilos, de história, lugares, livros, cada detalhe - minha paixão pela teatralidade de Caravaggio, seu fascínio pelo futurismo de Depero. E ele já foi em vários museus, galerias de arte, até mesmo no Louvre e, para me dar aquela pontada, na Capela Sistina. Estuda arte freneticamente, pinta todos os estilos, prova tudo, anseia por entrar na universidade logo e viver para sempre mergulhado no que ama. Belo. 
Revela sua admiração e desejo de  fazer arte urbana, nunca fez um graffiti mas entende mais que muito escritor antigo sobre a essência da coisa. Assim como compreende minha frustração pela universidade que provei, o ódio dos artistas de plástico e o eterno conflito com as cores.
Hoje, dia cinco de Janeiro, ele me chega pelo email, me deixa com saudade da conversa, da sensação boa de compreensão, de interesses comuns. Respondo com o verdadeiro anseio de reencontrá-lo e a certeza de não se fazer possível.
Mas talvez tenha bastado, era só pra eu sentir o sabor, saber que devem existir ainda muitas outras pessoas pelo mundo como ele, pra eu buscar. É reconfortante.



Nenhum comentário:

Postar um comentário